My rating: 5 of 5 stars
"A festa do chibo" é a todos os títulos uma obra admirável, com um fôlego incomum, mesmo para um autor como Llosa. É também um exemplo de uma escrita política sobre um tirano do século XX que chefia outros tiranos, que em conjunto aterrorizam, torturam e matam impunemente um povo e um país, a República Dominicana, a dois passos de Cuba e dos Estados Unidos.
É um retrato pungente de um povo dominado por uma cleptocracia (sim, não é só o ditador - o chibo - que vive à custa de um povo simultaneamente dominado e seduzido, é espantosa a capacidade de sedução de Trujillo) de familiares, amigos e militares, entre outros, incluindo também países como os Estados Unidos, uma sombra sempre mais ou menos presente, umas vezes com uma aparência benfazeja, outras claramente colaborando com os opressores.
É também uma história comovente de uma relação entre pai e filha cujo amor enfrenta enormes dificuldades e é sujeito a um desafio terrível, desafio esse que nos mantém em suspenso da primeira à última página do livro.
"A festa do chibo" encerra ainda uma dolorosa lição para os revolucionários que se deixam entusiasmar e se esquecem do povo, partindo para uma guerra de vida e de morte, cegos pelo seu fervor, pelos seus ideais, pela sua sede de vingança, por muitas outras razões, e esquecendo-se de olhar para trás e verificar quem são os que os seguem. Muitos? Poucos? Alguns?
Concluindo, a escrita de Vargas Llosa é mesmo só aquela que ele pode e sabe fazer. A narrativa pode ser complexa e confusa e embora seja cativante e agarre o leitor compulsivamente em busca da página seguinte, a leitura pode ser muito exigente, cansativa mesmo, contudo extraordinariamente compensadora.
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