Os livros permitem-nos viajar através do tempo, de beber na própria fonte o saber dos nossos antepassados. A biblioteca põe-nos em contacto com as concepções e o saber, a custo extraídos da natureza, das maiores mentes até agora existentes, com os melhores professores, provindos de todo o planeta e de toda a nossa história, para nos instruírem sem nos fatigarmos e para nos inspirarem a dar a nossa contribuição ao saber colectivo da espécie humana. As bibliotecas públicas dependem de contribuições voluntárias [Note-se que esta referência, se pode ser correcta para os EUA, não se aplica a muitos outros países, nota minha] Considero que a saúde da nossa civilização, a profundidade da percepção que temos das bases de apoio à nossa cultura e o nosso cuidado relativamente ao futuro podem ser medidas pelo tipo de apoio que damos às nossas bibliotecas. [negrito meu]
quinta-feira, 22 de abril de 2010
Carl Sagan sobre livros e bibliotecas
Tributo a Carl Sagan e a “Cosmos”, no dia 22 de Abril, Dia da Terra
Esta é a minha contribuição para a Maratona de Leitura que a Biblioteca Pública de Évora está a promover no Facebook. Aqui fica também o convite para a vossa participação.
Tenho a 1ª edição portuguesa, de 1985 (já lá vão 25 anos!), do “Cosmos” de Carl Sagan. É um dos livros mais bonitos que já li, juntando um incontestado rigor científico a uma escrita elegantíssima, numa prosa que por vezes rompe as barreiras dos géneros e nos delicia pelo ritmo, pela alegoria, enfim, pela poesia. ”Cosmos” é felizmente um daqueles livros, não muito frequentes, que nos levantam dificuldades à separação tantas vezes artificial entre “leitura informativa” e “leitura por prazer”.
Gosto de “Cosmos” por várias razões, e uma delas, não pouco importante, é o valor que Sagan atribui ao conhecimento e às bibliotecas como guardiãs e transmissoras do conhecimento. Ainda não era bibliotecário quando li o livro, e não sei até que ponto ele terá sido importante na mudança profissional que depois fiz. O que é certo é que Sagan atribui um valor às bibliotecas para a própria existência da humanidade que muito contribui para o orgulho que sinto na profissão que exerço. Mas sobre isto escreverei noutra altura, com algum detalhe, buscando e citando as respectivas referências.
Por agora sublinharia outra faceta de “Cosmos”, e outra influência que ele teve - e tem - sobre mim. A obra dá-nos uma perspectiva de tempo e de espaço, que nos (re)coloca na nossa verdadeira dimensão. Isto é, somos um grão de areia, um nano-micro-segundo no universo e no devir. E tudo isto nos levará a relativizar a nossa vida e o nosso orgulho, mas também a nossa dor e o nosso sofrimento.
Aproveitando o facto de estar a escrever no dia da Terra, concluo sublinhando a chamada de atenção permanente de Sagan para a nossa responsabilidade para com o nosso planeta, a nossa casa. Ela é tão pequena, tão frágil, e nós, humanos, parecemos ser a maior ameaça que sobre ela pesa. O que não impede Sagan de ser optimista e de ter uma visão muito positiva da humanidade.
Aqui fica um pequeno extracto de “Cosmos” de Carl Sagan:
“O Cosmos é tudo o que existe, existiu ou existirá. A mais insignificante contenmplação do cosmos emociona-nos – provoca-nos um arrepio, embarga-nos a voz, causa-nos a sensação suave de uma recordação distante. (…)
“O tamanho e a idade do cosmos ultrapassam a comum compreensão humana. Perdida algures entre a imensidão e a eternidade fica a nossa minúscula casa planetária. Numa perspectiva cósmica, a maioria dos interesses humanos parecem insignificantes, até mesquinhos. E todavia a nossa espécie é jovem, curiosa, corajosa e mostra-se prometedora. Nos últimos milénios fizemos as mais surpreendentes e inesperadas descobertas sobre o cosmos e o lugar que nele ocupamos. Estas descobertas recordam-nos que os homens evoluíram para descobrir que o conhecimento é um prazer, que o saber é uma condição indispensável à sobrevivência. Acredito que o nosso futuro depende da forma como viermos a conhecer este cosmos em que flutuamos como um grão de pó no céu matinal.
“Essas explorações exigiram cepticismo e imaginação. A imaginação transporta-nos com frequência a mundos que nunca existiram, mas sem ela não vamos a parte nenhuma. O cepticismo permite-nos distinguir a ficção da realidade e pôr à prova novas teorias. O cosmos é duma incomensurável riqueza – na perfeição dos seus elementos, na elegância das suas correlações, na subtileza do seu impressionante mecanismo.”