Em primeiro lugar há que perceber que o tema não nasce de qualquer inspiração sobrenatural, nem é muito aconselhável basear a escolha numa mera meditação contemplativa. Ou seja, a escolha do tema é em si mesma uma parte do processo investigativo, e requer trabalho, discussão, análise.
Várias práticas são aconselháveis, e na maior parte dos casos não são mutuamente exclusivas. Naturalmente a lista que se segue não pretende ser exaustiva.
- Se se trata de uma disciplina de um curso, começar por analisar com cuidado o programa e a bibliografia. Ler os textos indicados como fundamentais, e a partir daí procurar ideias, tópicos, assuntos. É preciso notar que há formas de leitura diversas, umas mais cuidadosas e demoradas que outras. Aqui trata-se de uma leitura relativamente rápida e superficial.
- Pesquisar em catálogos de bibliotecas e bases de dados relevantes, sobre a área científica do trabalho.
- Folhear manuais e livros da área, procurar temas nos índices e nos sumários de monografias e publicações periódicas
- Obviamente nos nossos dias, um passo fundamental (mas não isento de inconvenientes!) é a pesquisa na Internet. Aqui é necessário desenvolver competências para saber distinguir os diversos tipos de textos encontrados.
- Conversar com colegas, professores e orientadores.
- Registar várias ideias, começando por experimentar diversas hipótese de tema.
- Pensar, pensar, pensar muito.
Todo este processo deve ser registado e a sua descrição e reflexão fazem parte quer da proposta de investigação inicial quer do próprio relatório final, seja uma dissertação ou uma tese.
Algumas notas mais sobre a escolha de um tema:
- Se se trata de uma dissertação de mestrado ou tese de doutoramento, é normalmente aconselhável a escolha de um tema em relação ao qual haja um distanciamento tão grande quanto possível. Isto desaconselha obviamente uma prática (aliás demasiado comum) de escolher temas ligados ao próprio serviço, trabalho ou actividade profissional do investigador. Para além de evidentes problemas relativos à necessária objectividade necessária ao trabalho científico, podem realmente surgir conflitos de interesses insanáveis.
- O trabalho científico é feito para criar conhecimento em áreas determinadas. Mas o trabalho tem naturalmente de partir de conhecimentos prévios, e por isso é necessária uma revisão da literatura. Assim, a escolha do tema requer um equilíbrio difícil entre o conhecido e o desconhecido. Esta é uma questão que se põe de forma diversa nos diferentes graus académicos, e quanto mais avançados forem os estudos maior é a inovação expectável.
Escrevi este texto especificamente para ajudar alunos meus, a quem se levantam sempre muitas dúvidas nesta fase inicial do trabalho. Decidi partilhá-lo com quem o quiser ler, e ficaria muito contente se houvesse contributos, perguntas, discordâncias. Sou adepto da ideia de que a a partilha e discussão de ideias nos fazem aprender a todos, e faço este blogue com essa finalidade.
3 comentários:
Nada mais oportuno! Obrigada
Ângela Pereira
Nada mais oportuno! Obrigada
Ângela Pereira
"Se se trata de uma dissertação de mestrado ou tese de doutoramento, é normalmente aconselhável a escolha de um tema em relação ao qual haja um distanciamento tão grande quanto possível".
1. A ideia do distanciamento pode ser uma faca de 2 gumes, dado que podes "perder" um conhecimento profundo do contexto de funcionamento de um sistema , processo, etc e obrigar o formando a uma escolha que o motiva menos e para a qual não tem tempo.
2. Claro que há o problema do distanciamento e da forma de saber ler do ponto de vista científico o objecto com que se trabalha todos os dias. E isso é para poucos, talvez...
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