quinta-feira, 15 de abril de 2010

Mais notas do Congresso

Gostaria de acrescentar duas notas ao meu post anterior, uma positiva outra negativa, resultantes da vivência do X Congresso BAD.

Começando pela nota positiva. Verifica-se claramente a participação no Congresso de colegas relativamente mais jovens, muito entusiastas com a profissão, muito participativos e actuantes, gente com muita qualidade. Muitos são naturalmente os paladinos da biblioteca 2.0, mas outros há, talvez mais discretos, que mostram igualmente serem gente muito competente e com cabeças excelentes.

Sem paternalismo de nenhuma espécie gostaria de manifestar a minha satisfação e o grande prazer que sinto ao ver jovens colegas, mostrando uma grande paixão pela sua profissão, de que são realmente militantes empenhados. E manifesto a esperança numa renovação desta profissão, que, também a mim, me dá grande orgulho praticar.

Agora a nota negativa, ainda mais gritante depois do que escrevi no parágrafo anterior. Em diversas circunstâncias no Congresso e na Assembleia Geral da BAD (re)emergiu o problema já antigo das qualificações profissionais de pessoas nomeadas para desempenhar cargos técnicos na área das bibliotecas e arquivos ou de direcção, sem terem as qualificações necessárias (curso de especialização ou mestrado).

O problema está longe de ser novo, mas a legislação das carreiras da função pública, em vigor desde os anos 90 até há pouco tempo, criou um certo enquadramento que pelo menos obrigava à posse da especialização para concorrer a lugares do quadro. Por extensão também os lugares de chefia foram, salvo algumas excepções, sendo ocupados por profissionais especializados. Parece que este mundo como o conhecíamos acabou com a Lei Nº 12-A de 2008, e são cada vez mais frequentes as notícias de cargos técnicos e de chefia que são ocupados por técnicos superiores sem qualquer formação na área de bibliotecas e arquivos.

Durante o Congresso, protestámos e aprovámos moções, e devemos continuar a estar muito atentos e a denunciar todas as situações em que lugares de bibliotecários e arquivistas sejam ocupados por técnicos sem formação especializada. Não se consegue compreender, parece-me aliás absolutamente irracional, que Estado e autarquias possam escolher profissionais competentes e qualificados e, em vez disso, prefiram generalistas sem competência técnica para o trabalho que é esperado que façam.

domingo, 11 de abril de 2010

Notas do Congresso

Terminou na sexta-feira, dia 9, o X Congresso Nacional de Bibliotecários, Arquivistas e Documentalistas.

Gostaria de ter actualizado este blogue durante o Congresso mas tal acabou por se revelar impossível por diversas razões. Aqui ficam, como uma retrospectiva sem pretensões, algumas impressões ou notas soltas, sensações fragmentadas de três dias intensos.

A crise está aí e fez-se sentir a diversos níveis, começando pelo número de participantes que não chegou a atingir os 500. Instituições inteiras, anteriormente presenças fortes com vários delegados, praticamente não compareceram. E isto viu-se também na ausência quase total de colegas de Espanha e dos países lusófonos, presenças muito visíveis noutras ocasiões. Igualmente a atenção política e mediática foi diminuta. Nada disto é muito animador.

Felizmente a quantidade foi francamente compensada pela qualidade das participações. É certo que continuam a verificar-se comunicações que se inserem numa estratégia de promoção dos próprios organismos, que têm como objectivo mostrar a qualidade (por vezes muito questionável) do trabalho desenvolvido. Ainda não nos libertámos completamente da chamada “partilha de experiências”. Mas é notável a qualidade de muitas comunicações baseadas em investigação e estudos sérios, feitos em muitos casos no âmbito das universidades. São aqui bem visíveis os resultados positivos de alguns programas de mestrado e de doutoramento. Embora seja de lamentar a ausência de muitas pessoas responsáveis por esses cursos.

Claramente este foi o primeiro congresso onde foi visível o impacto da Web 2.0. Isso notou-se no crescente que antecedeu o congresso, com a utilização de diversas ferramentas, e notou-se também durante o congresso. Seria muito importante, no meu entender, que se mantivesse esta dinâmica de comunicação entre profissionais que – ficou bem visível – muito nos tem faltado. Suspeito contudo que esta característica seja ainda estranha a muitos, que olham para as tecnologias com alguma desconfiança, particularmente na vertente da comunicação e das redes sociais. Mas o futuro da associação, se não mesmo da profissão, se não me engano, passa por aqui.

À margem do Congresso realizou-se uma Assembleia-Geral da BAD. Notícias de uma situação financeira muito grave, porque muitos sócios não pagam as quotas! Como é isto possível?