- É verdade disse admirado. Até então tinha pensado que cada livro falava das coisas, humanas ou divinas, que estão fora dos livros. Agora apercebia-me que, não raro, os livros falam dos livros, ou melhor, é como se falassem entre si. À luz desta reflexão a biblioteca pareceu-me ainda mais inquietante. Era portanto o lugar de um longo e secular sussurro, de um diálogo imperceptível entre pergaminhos e pergaminhos, uma coisa viva, um receptáculo de poderes que uma mente humana não podia dominar, tesouro de segredos emanados de tantas mentes, e sobrevivendo à morte daqueles que os tinham produzido ou deles se tinham feito mensageiros - Mas então - disse - para que serve esconder os livros, se dos livros patentes se pode remontar aos ocultos?
- No arco dos séculos não serve de nada. No arco dos dias serve para alguma coisa. De facto vês como nos encontramos perdidos.
- E, assim, uma biblioteca não é um instrumento para distribuir a verdade, mas para retardar a sua aparição? - perguntei espantado.
- Nem sempre e não necessariamente. Neste caso é.
Diálogo entre Adso de Melk e Guilherme de Baskerville, em "O Nome da Rosa", de Umberto Eco (DIFEL, p.282)
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